Portal IFNMG - Egressa do IFNMG tem artigo sobre os impactos da mineração na saúde de garimpeiros publicado em revista internacional; pesquisa foi realizada no Jequitinhonha (MG) Ir direto para menu de acessibilidade.
Portal do Governo Brasileiro
ptenfrdeites
Início do conteúdo da página

Egressa do IFNMG tem artigo sobre os impactos da mineração na saúde de garimpeiros publicado em revista internacional; pesquisa foi realizada no Jequitinhonha (MG)

Publicado: Quarta, 15 de Fevereiro de 2023, 15h59 | Última atualização em Quarta, 15 de Fevereiro de 2023, 19h14

 

O artigo “Artisanal Gem Mining in Brazil: A Source of Genotoxicity and Exposure to Toxic Elements”, que tem como uma das autoras uma egressa do IFNMG, a pesquisadora Ana Paula Rufino Santos, foi publicado na revista “International Journal of Environmental Research and Public Health”. Tal periódico possui vertente interdisciplinar, é revisado por pares, tem acesso aberto e é publicado quinzenalmente on-line. Traduzido para o português, o artigo intitula-se “Mineração artesanal de gemas no Brasil: uma fonte de genotoxicidade e exposição a elementos tóxicos". 

Imagem para ilustrar a materia

Entre os conteúdos publicados no periódico “International Journal of Environmental Research and Public Health”, destacam-se artigos originais, revisões críticas, notas de pesquisa e comunicações curtas na área interdisciplinar de ciências da saúde ambiental e saúde pública, campo de estudo que contemplou a pesquisa da Ana Paula.

A pesquisadora se formou, em 2015, em Tecnologia em Gestão Ambiental pelo IFNMG-Campus Araçuaí, onde começou a pesquisar sobre meio ambiente e saúde, especificamente sobre os riscos à saúde de garimpeiros do Jequitinhonha, em Minas Gerais. A região é conhecida no mundo todo pela produção de diversas pedras preciosas: turmalina, berilo, estanho (cassiterita), feldspato, lítio (ambligonita, espodumênio e petalita), mica, nióbio-tântalo e quartzo.

O interesse pela temática conduziu Ana Paula para o Mestrado Profissional em Tecnologia, Ambiente e Sociedade, da Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri (UFVJM). Em 2018, a pesquisadora terminou a especialização e defendeu a dissertação “Biomonitoramento e efeitos genotóxicos da exposição ocupacional a metais em mineradores de gema do Vale do Jequitinhonha”. O trabalho foi orientado pelo pesquisador Jairo Lisboa Rodrigues e pela coorientador Márcia Cristina da Silva Faria. (Clique  aqui ou na imagem do tablet para baixar em PDF o artigo recém-publicado em revista internacional.)

Garimpeiro é o mais afetado em toda a cadeia de exploração das minas

No artigo publicado no dia 31  janeiro deste ano, Ana Paula e os demais pesquisadores - Lucas Zeferino Silva, Bruna Moreira Freire, Márcia Cristina da Silva Faria, Bruno Lemos Batista, Bruno Alves Rocha, Fernando Barbosa e Jairo Lisboa Rodrigues - retomam a temática da mineração e afirmam que a exposição ambiental e ocupacional dos garimpeiros a metais tóxicos tem ocasionado sérios problemas de saúde e que as atividades de mineração contribuem para um risco aumentado de exposição a esses elementos.

A pesquisadora ainda destaca a importância dos Equipamentos de Proteção Individual (EPIs) - os quais não são habitualmente utilizados - nas atividades de mineração, sobretudo na atividade artesanal: “pelo fato de os garimpeiros estarem em contato direto com a poeira e com o solo sem qualquer equipamento de proteção individual, o garimpeiro está diretamente exposto, sendo o mais afetado em toda esta cadeia de exploração”. Ana Paula conta, ainda, que o próprio pai trabalhou como garimpeiro por mais de 30 anos na mesma região onde foi desenvolvida a pesquisa. 

Para o desenvolvimento da investigação, foi feito um estudo de biomonitoramento ambiental e  das rotas de exposição a metais tóxicos em uma região de garimpo artesanal, estritamente no distrito de Taquaral de Minas, localizado no Vale do Jequitinhonha no estado de Minas Gerais. Ana Paula conta que cinco minas foram analisadas: Bode, Pirineu, Pinheira, Lajedo e Marmita. Vários metais tóxicos, como berílio (Be), zinco (Zn), manganês (Mn), bário (Ba), cádmio (Cd), mercúrio (Hg) e urânio (U), foram encontrados em solos, em poeira e em poeira sobre as rochas e sobre os solos na localidade da pesquisa. 

Mapa TaquaralMapa da localização onde foram pesquisadas as amostras biológicas e ambientais: no distrito de Taquaral de Minas, município de Itinga, na região do Jequitinhonha, em Minas Gerais. O Vale do Jequitinhonha é classificado como uma das mais importantes regiões produtoras de gemas do mundo, abrangendo os municípios de Virgem da Lapa, Rubelita, Coronel Murta, Itinga Medina e Pedra Azul

Resultados das análises prenunciam danos à saúde dos garimpeiros

Conforme relata o artigo, amostras de 22 indivíduos expostos ocupacionalmente e 17 pessoas não expostas, que formaram o grupo de referência, foram analisadas quanto aos elementos químicos. Nos garimpeiros, “foram realizadas análises de sangue, de urina para identificação de elementos e análises da mucosa bucal para identificar alterações genotóxicas celulares, tais como células com micronúcleo, binucleadas, cariolíticas”, descreve Ana Paula.

As alterações genotóxicas celulares foram observadas por meio do teste de genotoxicidade, que significa, conforme a pesquisa trata, um exame, uma análise para identificar a potencialidade de determinadas substâncias para provocar alterações no organismo do ser humano. Essas alterações podem culminar na ocorrência de cânceres e doenças hereditárias.

“A genotoxicidade foi avaliada pelo Teste de Micronúcleo em células da mucosa bucal esfoliada. As seguintes alterações foram classificadas: células binucleadas (BN), cariolíticas (KL) e micronúcleos (MN). Os resultados do teste MN mostraram um aumento em todas as alterações do grupo exposto em relação aos controles (p <0,05; teste t de Student). A comparação de MN e concentrações de sangue e urina mostrou diferença significativa P <0,05. A análise de urina mostrou concentrações de cromo (Cr), níquel (Ni) e bário (Ba), bem como chumbo (Pb) e arsênio (As) no sangue superiores ao recomendado pela ATSDR. O aumento dos anos de trabalho elevou as concentrações de elementos no sangue, provavelmente devido à exposição crônica. Então, há riscos potenciais na saúde dos trabalhadores devido à mineração de pedras preciosas”, expõe Ana Paula, evidenciando os resultados do estudo.  

A sigla ATSDR significa, em inglês, Agency for Toxic Substances and Disease Registry; e em português, Agência para Substâncias Tóxicas e Registro de Doenças. Trata-se de uma instituição de referência que tem sede nos Estados Unidos e caracteriza-se como uma agência federal de saúde pública do  Departamento de Saúde e Serviços Humanos. O objetivo da instituição é proteger as comunidades de efeitos nocivos à saúde relacionados à exposição a substâncias perigosas naturais e artificiais.

“Variada e qualificada fundamentação teórica, procedimentos metodológicos alinhadíssimos ao estudo do objeto e, o que considero mais relevante, apresenta uma pesquisa aplicada com grande relevância social e ambiental. Não foi por acaso que o artigo foi aceito e publicado em um periódico internacional de alta indexação”, destaca o professor de geografia Emerson de Oliveira Muniz

Saúde dos garimpeiros em risco: o papel da ciência

De acordo com o artigo, as altas concentrações dos metais, principalmente das toxinas encontradas nas amostras ambientais (Ba, Cd, Hg, U), são capazes de causar efeitos à saúde humana. A poeira encontrada nas minas subterrâneas e sobreposta ao solo ou rochas está em contato direto com a pele com as vias de ingestão dos garimpeiros. 

Os pesquisadores concluíram que “o estudo é fundamental para o biomonitoramento de uma população exposta, que é geralmente ignorada pelas autoridades, e para o estímulo de investigações semelhantes em outras áreas da mineração artesanal. O desenvolvimento de medidas preventivas ou remediadoras, através da avaliação e compreensão da relação direta obtida pela exposição e o efeito biológico subsequente, pode levar a uma redução nos danos à saúde ou risco de câncer em humanos. Portanto, os resultados atuais são essenciais para a realização de novos estudos ambientais e atividades de monitoramento biológico em áreas de exploração mineral”. 

O professor de geografia Emerson de Oliveira Muniz, que lecionou no IFNMG no curso de Tecnologia em Gestão Ambiental e ministrou a disciplina “Recursos Minerais”, orientou a estudante Ana Paula Rufino na produção do Trabalho de Conclusão de Curso em 2015. “Sabedor da riqueza mineralógica do Médio Vale do Jequitinhonha, resolvi desenvolver e contextualizar os conteúdos da referida disciplina de maneira a valorizar e aproveitar a vivência de alunos da turma, vários deles oriundos de famílias com direta relação com a atividade garimpeira. Um dos destaques dessa orientação foi a realização de visitas técnicas e aulas de campo em áreas de exploração mineral da região”, explica o professor, que hoje trabalha no Instituto Federal do Sudeste de Minas Gerais. 

Depois de oito anos, o professor fica admirado e orgulhoso pelo alcance da pesquisa que começou no IFNMG. Para o educador,  é enorme a importância de produção de estudos nessa temática e na região pesquisada. Ele conta que a área de abrangência do IFNMG, apresenta regiões, como o Norte de Minas e o Vale de Jequitinhonha, riquíssimas em recursos minerais, com diversos empreendimentos de grande, média e pequena monta que já exploram e que tendem a explorar mais ainda o potencial econômico dessas jazidas.

“Se por um lado, a produção de riquezas, empregos e renda induz e justifica a exploração mineral, por outro, no espectro socioambiental e da saúde dos trabalhadores e das populações vizinhas às áreas de extração, não se pode prescindir do princípio da prevenção de riscos e das boas práticas laborais. Quando profissionalmente atuei no Norte de Minas, conheci de perto muitas situações de total desrespeito ao meio ambiente e à saúde dos trabalhadores garimpeiros. O revolvimento do solo e a extração de materiais rochosos na busca de um outro recurso mais valioso, sejam turmalinas, sejam minerais com boa concentração de lítio, têm o potencial de trazer à superfície um sem número de outras substâncias com alto poder de toxicidade que, em caso de negligência e má destinação, geram malefícios silenciosos, mas extremamente danosos e complicada reversibilidade. O artigo do grupo de pesquisadores do qual a Ana Paula faz parte comprova essa perigosa ameaça”, reconhece o professor Emerson de Oliveira, mestre em geografia pela Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF). 

O estudo foi realizado em três instituições - UFVJM,  Universidade Federal do ABC (UFABC) e Universidade de São Paulo (USP) - e  a pesquisa foi apoiada pelo Programa Pesquisa para o SUS (PPSUS), pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (FAPESP), pela Fundação de Amparo à Pesquisa de Minas Gerais (FAPEMIG) e pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq). 

Clique aqui para acessar o artigo Artisanal Gem Mining in Brazil: A Source of Genotoxicity and Exposure to Toxic Elements”

Acesse o artigo também na página da National Library of Medicine

A pesquisa no IFNMG e o compromisso do professor 

No IFNMG, o desenvolvimento da pesquisa articula os saberes existentes com as necessidades dos indivíduos e da sociedade. Por isso, o pró-reitor de Pesquisa, Pós-Graduação e Inovação (Proppi), Edinei Canuto Paiva, faz questão de destacar que a pesquisa é uma atividade formativa. “A pesquisa não está desvinculada do ensino, isso significa que não existe ensino integral sem pesquisa. Com a pesquisa, o estudante tem uma visão mais crítica do processo, porque o método torna-se conhecido. Assim, é possível identificar se determinada atividade apresenta riscos, qual o nível dos riscos e como minimizá-los. Muitos são os nossos estudantes que desenvolvem pesquisa no IFNMG e começam a atuar na própria região por identificar, por meio da ciência, nichos de mercado. Há também os estudantes que dão continuidade aos estudos, oferecendo para a sociedade dados, descobertas, explicações, informações e diretrizes que têm poder transformador”, enfatiza o pró-reitor.

Os resultados do artigo “Artisanal Gem Mining in Brazil: A Source of Genotoxicity and Exposure to Toxic Elements” demonstram esse poder da ciência, sobretudo numa região ainda carente de pesquisas que discutam sobre trabalho, desenvolvimento sustentável e saúde. Além da própria história familiar, Ana Paula relata que o IFNMG foi fundamental para a sua  formação acadêmica e profissional e para a entrada no universo da pesquisa no campo da mineração. 

“Na UFVJM, sob orientação de Jairo e Márcia, pude unir dois pilares de estudo: a parte de toxicologia ocupacional e análises ambientais para identificação de metais tóxicos no solo e na poeira das rochas encontradas dentro das minas de extração”, explica Ana Paula Rufino Santos, uma das autoras do artigo publicado em revista internacional

“Sempre me interessei por estudos relacionados à riqueza mineral regional. E por estar inserida em uma localidade onde a principal fonte de renda provém do garimpo, inclusive com familiares que já trabalharam na exploração, a possibilidade de desenvolver projetos com Emerson durante a graduação me fez ter um interesse em pesquisar mais sobre tais temáticas. Na UFVJM, sob orientação de Jairo e Márcia, pude unir dois pilares de estudo: a parte de toxicologia ocupacional e análises ambientais para identificação de metais tóxicos no solo e na poeira das rochas encontradas dentro das minas de extração”, explica a egressa. 

O professor Emerson, que foi um dos incentivadores da carreira acadêmica da pesquisadora, observou que o artigo elaborado pela Ana Paula e pelos demais pesquisadores reúne três aspectos de excelência: “variada e qualificada fundamentação teórica, procedimentos metodológicos alinhadíssimos ao estudo do objeto e, o que considero mais relevante, apresenta uma pesquisa aplicada com grande relevância social e ambiental. Não foi por acaso que o artigo foi aceito e publicado em um periódico internacional de alta indexação”.

Sobre o papel do professor no processo de formação da pesquisadora, Emerson diz que o fato de ter se sensibilizado pela cultura, pelas demandas sociais e pela incrível geografia do Vale do Jequitinhonha contribuiu para motivar os estudantes. “Busquei interagir e aprender com as pessoas do local, com os alunos sobretudo. Propus e orientei alguns projetos de pesquisa e extensão no Campus Araçuaí, todos eles com a temática mineral como fulcro. Assim, conheci a Ana Paula, que, após graduada, rumou para o Mestrado na UFVJM e deu brilhante continuidade a esses estudos”, relembra o professor. 

Atualmente no IF Sudeste de MG, no Campus de Juiz de Fora, o professor Emerson se dedica a pesquisar e a desenvolver projetos nas áreas de inovação em práticas de ensino, tecnologias educacionais e, numa outra frente mais recente, ao estudo de topônimos. 

Clique aqui para ficar por dentro das ações da Pró-Reitoria de Pesquisa, Pós-Graduação e Inovação do IFNMG

Fim do conteúdo da página